Região_Cidade e Universidade
- João Leitão
- 21 de mar. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de mar. de 2020

Em pleno respeito do Rui e de outros críticos de mui elevada estatura moral e humanista, este não é mais um texto sobre regionalização. O ponto focal desta crónica é a relação ainda inexplorada entre a Região_Cidade e a Universidade. A Região_Cidade é aqui abordada como sendo a aglutinação de todos os concelhos (à escala regional, no panorama nacional) interessados em construir fluidas e comunicantes relações estratégicas entre instituições, pessoas e entidades representativas, tanto públicas como privadas, sob a forma de um verdadeiro ecossistema abrangente das instituições e pessoas nas suas distintas dimensões urbanas e rurais. No espaço regional mais próximo, a unidade territorial e nuclear é constituída natural e geograficamente por três concelhos, a saber, Belmonte, Covilhã e Fundão, mas outros gravitam na vizinhança geográfica, cultural, económica, social, histórica e patrimonial, que podem e devem ser perfeitamente integrados, neste núcleo com força gravitacional em torno da pedra angular do conhecimento, a Universidade.
A Universidade tem um sentido amplo, com vocação universalista, que naturalmente deve integrar e liderar redes ou consórcios de agentes de educação, investigação e desenvolvimento, e transferência de conhecimento e tecnologia, em consonância com a sua missão tradicionalmente tripartida, à qual acresce a emergente atividade e responsabilidade de sustentabilidade da Região-Cidade.
Colocar a tónica na relação entre a Região-Cidade e a Universidade é corajoso e fora do quadrado, pois obriga a pensar, de forma aturada, sobre o que a região pode efetivamente fazer pela Universidade, e não o contrário, como é habitual observar no pensamento dominante dos agentes políticos, empresariais e sociais, que por uma vez, deveriam pensar em servir e não somente em servirem-se da “noiva” Universidade, em bodas engalanadas, a preceito de interesses e necessidades de índole diversa.
A título gratuito, e não me interpretem mal, pois não vos anuncio o que devem fazer, simplesmente ouso levantar possibilidades de trabalho (à razão de uma por ano) dentro de uma conjetura crescentemente censurada e censurável, atrevo-me, portanto, a questionar para quando se prevê: (1) a revisão articulada dos Planos Diretores Municipais, integrando um conceito de Campus Universitário de Excelência da Região_Cidade; (2) a criação na região de um instituto europeu de investigação na área da qualidade de vida e sustentabilidade das regiões; (3) o investimento em facilidades (estruturas) vocacionadas para o desporto de alta competição, em altitude; (4) o desenho e a implementação de uma região bio de produções e energias verdes; (5) o investimento numa estrutura intermodal de transportes: aeroportuário; ferroviário; e rodoviário; (6) a criação de uma casa regional de artes, culturas, tecnologias e engenhos; (7) a criação de uma rede de telemedicina e apoio social para um envelhecimento seguro e saudável; (8) a criação de corredores verdes de florestação e biodiversidade; (9) o investimento no regadio a norte e a sul, em articulação com a estrutura já existente a este; (10) a construção social dedicada a quadros e estudantes nacionais e internacionais; (11) a criação de uma agência de investimento e internacionalização da região; e (12) a comunicação concertada e aglutinadora das marcas nascidas na Região_Cidade.
As pessoas passam, mas as palavras avisadas, com força e valia, ficam. Perduram nas boas cabeças e nos bons corações, que a água pura da nossa região pode clarear, de forma eficaz. Está mais do que na hora, de transferir o debate hermético da Universidade para a região e ousar compensar o saldo, inequivocamente, superavitário, em termos do que a Universidade fez, faz e irá fazer por uma nova Região_Cidade, que deve ser reorganizada e estruturada com o fim de aumentar o bem-estar social e comum, e não continuar a alimentar o status quo das individualidades egocêntricas e dos senhores feudais da Terra!
João Leitão
Universidade da Beira Interior
Núcleo de Estudos em Ciências Empresariais (NECE)
Publicado no Jornal do Fundão 04/03/2020
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