Ecossistemas produtivos na “Beira Interior”: constrangimentos e oportunidades
- João Leitão
- 22 de mar. de 2020
- 3 min de leitura

A “Beira Interior” é um aforismo regional impelido pela histórica falta de inteligência e eficácia das políticas de desenvolvimento, empreendedorismo, inovação e sustentabilidade de base regional, em Portugal.
A aposta na dinamização de ecossistemas produtivos na “Beira Interior”, permitirá o desenvolvimento de um conjunto de benefícios para as Regiões-Cidade onde se venham a desenvolver, por via da potenciação de processos que incluem a valorização material e imaterial dos recursos endógenos; a ascensão na cadeia de valor; a diversificação; a resiliência social e económica; a criatividade; a inovação; o empreendedorismo tecnológico; o acréscimo dos níveis de remuneração e da produtividade; o capital intelectual; a sustentabilidade; a ecologia industrial; e a visibilidade internacional.
Tal aposta requer um conjunto de medidas que vise ultrapassar três níveis básicos de constrangimentos, a saber, a insuficiência ou ineficácia na oferta de bens públicos; as falhas de coordenação entre os agentes; e as insuficiências na conexão às redes globais. Acrescem aqui as desarticulações institucionais entre as infraestruturas e as políticas públicas nos domínios do conhecimento e as necessidades do mercado, bem como dos sistemas de apoio ao investimento produtivo e à internacionalização. E ainda as falhas governamentais, pois urge melhorar a coordenação da estrutura de governação (através de uma política de desenvolvimento de ecossistemas produtivos, de baixo para cima, ou seja, que, no nosso caso, deveria ser das Cidades-Região para a Região Centro); dinamizar no setor público um papel catalisador de iniciativas com origem nas pessoas; e limitar o excesso de regulamentação e adaptá-la ao processo evolutivo de transformação digital.
Ao nível das oportunidades, em face dos efeitos do aquecimento global e dos “inevitáveis” incêndios, a implementação de um modelo inovador de desenvolvimento, do tipo quíntupla hélice, onde a ecologia industrial, o conhecimento e a inovação, criem sinergias entre a sociedade (as pessoas e as universidades), a economia (as empresas) e a democracia (o governo regional e nacional), constitui uma oportunidade a explorar.
O objetivo e o interesse da quíntupla hélice devem posicionar e considerar o ambiente natural como um novo subsistema de modelos de conhecimento e inovação, para que a "natureza" venha a ser uma componente central da função de produção, conhecimento e inovação social da nossa “região”. A natureza é crítica para o processo de produção de conhecimento e também para a inovação, inclusive, a social, na medida em que a primeira serve para a preservação, a sobrevivência e a revitalização da humanidade, bem como para a criação de novas tecnologias verdes; e a humanidade, afinal, deve aprender mais da capacidade de sobrevivência e renovação da natureza (especialmente, em tempos de mudança climática). Com a implementação deste novo modelo de desenvolvimento assente em ecossistemas produtivos, a quinta hélice conjunta da “natureza”, do "desenvolvimento sustentável" e da "ecologia social", é uma peça crítica de um novo motor de crescimento, que deverá ter como pistões prioritários: a produção de conhecimento; e a inovação social.
Por último, devem ser avaliadas outras janelas de oportunidade, que carecem de abertura e aprofundamento, ao nível da verificação da consistência dos ecossistemas produtivos das Regiões-Cidade; da abrangência dos clusters de conhecimento, empreendedorismo e inovação existentes; da adequabilidade das estratégias de eficiência coletiva e especialização inteligente (mediante o controlo efetivo dos programas de ação e da prestação de contas); da ambição colocada e dos resultados; e não menos importante, do modelo de governação. Será o presente modelo de governação, o mais adequado à densificação da capacidade de absorção e produção inovadora das nossas pessoas, empresas e instituições …? Não importa de que aforismo regional se trate!?
João Leitão
Universidade da Beira Interior
Núcleo de Estudos em Ciências Empresariais (NECE)
Publicado no Jornal do Fundão
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