Qualidade de vida no trabalho e produtividade: o pêndulo do burnout
- João Leitão
- 2 de abr. de 2021
- 4 min de leitura

O estudo científico que aqui se apresenta, e que envolveu seis países europeus, proporciona uma avaliação inovadora dos efeitos do burnout como pêndulo moderador da relação entre a qualidade de vida no trabalho dos trabalhadores e a sua percepção de contribuição para a produtividade da organização.
Aumentar a qualidade de vida no trabalho obriga a repensar valências críticas da gestão do capital humano, tais como a saúde, o bem-estar, a segurança e higiene no trabalho, a satisfação no trabalho, o equilíbrio entre vida profissional e pessoal, a motivação, a produtividade e o scouting de competências comportamentais. Por contraste, a diminuição de qualidade de vida no trabalho está relacionada com níveis elevados de stress, ansiedade e burnout.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) categorizou o burnout como um fenómeno relacionado com o trabalho, nos termos seguintes: «síndrome resultante de stress ocupacional crónico que não é gerido com sucesso. O burnout é caracterizado em três dimensões: (1) sentimento de falta de energia ou exaustão; (2) aumento da distância mental do trabalho ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados com o trabalho; e (3) eficiência profissional reduzida».
No exercício de actividades profissionais, o pêndulo do burnout tem sido associado a absentismo, quebra de produtividade, menor motivação, baixa satisfação e, ainda, a saúde mental e física reduzida. Esta síndrome é mais usual em profissionais com interacções sociais, tais como médicos, enfermeiros, auxiliares de saúde, forças de segurança e protecção civil, professores, atletas de alta competição e outros trabalhadores sociais.
O burnout pode aumentar a possibilidade de desenvolver perturbações do sono, doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes, fadiga, ansiedade, baixa autoestima, depressão e envelhecimento acelerado. O quadro sumário de sintomas observados em pessoas com burnout são: fadiga crónica; exaustão; distúrbios de concentração; lapsos de memória; desorganização; ausência de motivação; mudanças de personalidade; ansiedade; depressão; e baixa realização pessoal.
Os profissionais com um elevado nível de inteligência emocional conseguem lidar melhor com o stress e, usualmente, evidenciam incidência mais reduzida de burnout, o que pode conduzir a um nível mais elevado de produtividade no trabalho. Como a baixa eficiência é uma das dimensões do burnout, as estratégias de regulação emocional podem ajudar os profissionais a sentirem-se realizados com a actividade profissional.
O estudo científico aqui apresentado é resultado de um projecto europeu, que envolveu doze parceiros, em seis países europeus: Itália; Bulgária; Chipre; Grécia; Espanha; e Portugal. Proporciona uma avaliação inovadora dos efeitos do burnout como pêndulo moderador da relação entre a qualidade de vida no trabalho dos trabalhadores e a sua percepção de contribuição para a produtividade da organização.
Os resultados mostram que 80% dos respondentes sentem que contribuem para a produtividade da organização. Cerca de 37% dos respondentes reportaram exaustão emocional, 20% reportaram cinismo e 23% reportaram que sentem uma baixa eficiência.
A educação universitária influencia positivamente a contribuição para a produtividade. Um ambiente seguro e cuidados de saúde influenciam positivamente a contribuição para a produtividade; enquanto que o sentimento de baixa eficiência afecta negativamente a contribuição para a produtividade. Em termos inovadores, é ainda revelado que o estado de exaustão emocional, combinado com um salário apropriado, tem um efeito catalisador sobre a contribuição para a produtividade.
Um ambiente de trabalho seguro influencia positivamente a produtividade dos trabalhadores, já um ambiente de trabalho altamente stressante está associado a um nível mais elevado de burnout, sendo o stress dos trabalhadores um preditor de burnout. Tanto a exaustão emocional como o burnout influenciam negativamente a contribuição para a produtividade. Os resultados obtidos com este estudo apontam para um efeito negativo do burnout sobre a produtividade, tendo por referência a ligação da qualidade de vida no trabalho com a exaustão emocional.
O cinismo e o pessimismo restringem a relação entre a qualidade de vida no trabalho e a contribuição para a produtividade, podendo concluir-se que trabalhadores optimistas são mais produtivos do que os pessimistas. Por seu turno, os trabalhadores pessimistas são mais absentistas que os trabalhadores optimistas.
Recomendações
Estes resultados fornecem recomendações para o desenho e implementação de programas organizacionais para combater o burnout, designadamente:
Desenho de esquemas de saúde, higiene e segurança ocupacional apropriados;
Criação de condições para estimular ambientes de trabalho seguros;
Criação de compensações salariais para reequilibrar ambientes de trabalho stressantes;
Trabalhar em condições de trabalho mais seguras para reequilibrar as atitudes de pessimismo/cinismo no trabalho; e
Compensar adequadamente os trabalhadores que promovam a eficiência no trabalho.
Para o futuro, sugere-se a realização de mais investigações, em contextos organizacionais diferenciados, sobre a relação entre a qualidade de vida no trabalho, o burnout e a contribuição para a produtividade, considerando diferentes fatores de stress ambientais, tendo em conta que os ecossistemas de trabalho estão em contínua mudança. Isto significaria actuar, de forma emocionalmente mais assertiva, dentro do contexto organizacional e no trabalho à distância, permitindo assim adoptar práticas inovadoras de gestão de capital humano, incluindo inteligência emocional colectiva, inovação organizacional, polivalência organizacional, gestão de projectos à distância, laboratórios abertos e colaborativos, bem-estar, e reequilíbrio da vida profissional e da vida pessoal.
Publicado na Revista Human Resources, 01/04/2021
João Leitão, professor da Universidade da Beira Interior e director da UBIexecutive
Dina Pereira, gestora da Incubadora UBImedical
Ângela Gonçalves, bolseira de investigação da UBImedical
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