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Plano Juncker para (Des)interiorizzzzzar Portugal

  • Foto do escritor: João Leitão
    João Leitão
  • 25 de mar. de 2020
  • 3 min de leitura

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O Plano Juncker está a passar ao lado das necessidades reais do Interior de Portugal. De entre as principais razões apontadas para a falta de interesse das câmaras municipais está o facto de o empréstimo contar para o aumento da dívida municipal, o que em determinadas situações conhecidas pode funcionar como um obstáculo intransponível, tal foi a necessidade de recorrer a financiamento externo para proporcionar as condições básicas para uma qualidade de vida aceitável, a quem paga impostos sem conhecer devidamente o mapa de origem e de aplicações dos fundos públicos. Convém aqui distinguir entre administrações despesistas, sem visão estratégica, e aquelas que prosseguem visões de futuro que podem e estão a reconfigurar para melhor os territórios de baixa densidade, como é o caso do Fundão.


Em todo o país, este crucial mecanismo europeu deu luz verde a três grandes projetos: ao plano de investimentos da câmara de Lisboa, com um financiamento de 250 milhões de euros, à construção de um novo campus da Universidade Nova de Lisboa, em Carcavelos, no valor de 16 milhões de euros; e à construção de duas centrais de biomassa, em Viseu e no Fundão. Está ainda a ser preparada a candidatura Casa Eficiente, que disponibilizará 100 milhões de euros para melhorar a eficiência energética das habitações.


Em setembro de 2016, o Banco Europeu de Investimento (BEI) informava já ter mobilizado mais de mil milhões de euros para Portugal do plano Juncker. Em fevereiro de 2017, a mesma instituição tinha garantido o financiamento a 18 projetos nacionais, com um volume de investimento superior a 3.400 milhões de euros, o que coloca Portugal entre os oito países europeus mais beneficiados pelo referido mecanismo.


Voltando ao Interior de Portugal, faltam mais projetos mobilizadores e críticos para a sustentabilidade e o crescimento deste território ostracizado pela administração central, designadamente: (1) um itinerário complementar (livre de portagens) que ligue a Covilhã, o Fundão e Coimbra, via Silvares; (2) um campus tecnológico e empresarial (UBITech) a localizar na Covilhã, com uma parceria mobilizadora entre a Universidade da Beira Interior, a Universidad de Salamanca, a Universidade de Coimbra e a Universidade de Aveiro; (3) o regadio integrado da Cova da Beira e Beiras, integrando as barragens dos concelhos de Penamacor e Idanha-a-Nova e das redes de pequenas estruturas existentes na Gardunha Sul; e (4) um aeroporto na área de Penamacor, acompanhado de uma via de acesso à A23 e à futura ligação a Espanha, via Termas de Monfortinho; bem como da construção de um novo triângulo ferroviário entre Fundão, Penamacor e Coria (em Espanha), com possibilidade de ligação à rede de transporte ferroviário de alta velocidade Espanhola.

O único projeto municipal conhecido é o da Câmara de Lisboa, que foi mesmo a primeira, a nível europeu, a conseguir financiamento direto do plano Juncker, que servirá para financiar metade do plano de investimentos do município até 2020, avaliado em 520 milhões de euros. O município receberá um empréstimo de 250 milhões, a pagar em 20 anos, o que tem preocupado os partidos da oposição.


As universidades, na sua generalidade, rejeitam endividar-se, excetuando a Universidade Nova de Lisboa, que fez um trabalho notável de levantamento de fundos junto de parceiros, alumni e investidores nacionais e estrangeiros, bem como a Universidade Católica Portuguesa que tenciona usar o mecanismo para alavancar o seu centro de excelência na área da biotecnologia.


É caso para perguntar: Portugal resume-se a Lisboa e muito pouco ao Porto… e o resto é paisagem? Não se trata de criar mais dívida, mas sim de pagar a que existe e descentralizar o investimento para termos um território menos desequilibrado e mais pujante em termos de inovação, produção e emprego qualificado. É necessário debater, sem denegrir ao abrigo de ajustes de contas, que não servem interesses coletivos, mas sim interesses pessoais que pagam silêncios, conivências, favorecimentos e promoções sem mérito.


Acorda Interior de Portugal, não te deixes embalar, em supostas falsidades e facilidades. Os tempos futuros serão difíceis e a solução não residirá na desunião.


O passado ensina-nos que o Interior de Portugal tem uma capacidade inexcedível de dividir e de implodir os poucos que aqui resistem, eu diria que já nem é por sede de protagonismo, mas sim por maldade, ignorância pura, pequenez e incapacidade de pensar e atuar em conjunto, sem atacar pela calada, e construindo uma cova funda, bem funda, cheia de novas ideias!


João Leitão


Universidade da Beira Interior

Núcleo de Estudos em Ciências Empresariais (NECE)


Publicado no Jornal do Fundão

 
 
 

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