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Podcast: Oikonomia 11_Consequências económicas da guerra

  • Foto do escritor: João Leitão
    João Leitão
  • 1 de mai. de 2023
  • 4 min de leitura

Este é o primeiro podcast da Oikonomia, a pedido, e tal deve ser assinalado com muita satisfação. É sinal de que esta rubrica é escutada pelos nossos ouvintes!

Em termos iniciais, a invasão russa da Ucrânia foi rápida e dramática, mas as consequências económicas tenderão a ser muito mais lentas e menos espetaculares. A própria guerra é enormemente trágica, antes de mais para o povo ucraniano, mas também para o povo russo e para a ordem global em geral. Quando algo catastrófico sucede, espera-se que seja como um jogo de moralidade, em que todas as más consequências se desenrolam de forma igualmente dramática em todas as dimensões, incluindo a economia. Mas a economia não funciona dessa forma!

É verdade, os mercados financeiros reagiram rapidamente às notícias sobre a invasão da Rússia, evidenciando alguma eficiência na assimilação das más notícias. O MSCI All Country World Index, um índice de ações líder mundial, caiu para o seu nível mais baixo em quase um ano. O preço do petróleo subiu acima dos 100 dólares por barril, enquanto os preços do gás natural europeu subiram inicialmente quase 70%.

Estes aumentos de preços da energia afetaram e afetarão negativamente a economia global. A Europa é especialmente vulnerável, porque pouco fez nos últimos anos para reduzir a sua dependência do gás russo, e em alguns casos - nomeadamente a Alemanha, que abandonou a energia nuclear - até a exacerbou. Resta a França que com a sua estratégia de investimento numa fonte de energia limpa, no pós-Segunda Guerra Mundial, revela hoje ter uma vantagem comparativa, em termos absolutos, face aos restantes parceiros europeus.

Os países importadores de petróleo sofrerão um vento contrário devido aos preços mais elevados. Os EUA estão mais protegidos, na medida em que a sua produção de petróleo é igual ao seu consumo, o petróleo mais caro é mais ou menos neutro, para efeitos de determinação do PIB. Mas os preços mais elevados do petróleo irão prejudicar os consumidores americanos, enquanto ajudarão um segmento mais limitado de empresas e trabalhadores ligados à indústria do petróleo e do gás. O aumento dos preços irá também aumentar a inflação, que já se encontra nos seus níveis mais elevados numa geração nos EUA, Europa, e outras economias avançadas.

A 100 dólares por barril, o petróleo está cerca de um quarto abaixo do seu preço ajustado pela inflação durante o período 2011-2014. Adicionalmente, os preços dos futuros do petróleo são inferiores aos preços à vista, sugerindo que o mercado espera que este aumento seja temporário. Os bancos centrais podem, portanto, em grande medida, olhar para os acontecimentos na Ucrânia, não se segurando no aperto nem o acelerando em resposta a uma inflação mais elevada. Apesar de os mercados bolsistas mundiais terem estado em alta ao longo do último ano, têm vindo a dar sinais de oscilações um pouco preocupantes.

Da mesma forma, embora a bolsa russa tenha caído significativamente desde o início da invasão, é pouco provável que as sanções ocidentais tenham efeitos dramáticos imediatos. As sanções raramente o fazem, pois, em termos simples, não são o equivalente económico das bombas que a Rússia está atualmente a lançar sobre a Ucrânia.

Acresce ainda que, a Rússia está mais bem preparada do que a maioria dos países para resistir às sanções. O país tem vindo a registar um enorme excedente na conta corrente e acumulou reservas cambiais recorde de $630 mil milhões - suficientes para cobrir quase dois anos de importações. E embora a Rússia esteja dependente das receitas provenientes da Europa, os europeus estão dependentes do petróleo e gás da Rússia - que podem ser ainda mais difíceis de substituir a curto prazo.

Mas, no longo prazo, a Rússia será provavelmente o maior perdedor económico do conflito (depois da Ucrânia, cujas perdas irão muito além do que pode ser medido nas contas nacionais). A economia da Rússia e o bem-estar da sua população, têm estado estagnados desde a anexação da Crimeia pelo Kremlin em 2014. As consequências da sua invasão atual e em grande escala serão quase de certeza mais graves, à medida que o relógio do tempo venha a avançar. As sanções serão cada vez mais severas e o isolamento crescente da Rússia, em termos internacionais, bem como o aumento da incerteza dos investidores, irão enfraquecer o comércio e outros laços económicos. Espera-se também que a Europa seja capaz de reduzir a sua dependência relativamente aos combustíveis fósseis com origem na Rússia.

As consequências económicas a longo prazo para o resto do mundo serão muito menos severas do que para a Rússia, mas continuarão a ser um desafio persistente para os decisores políticos. Existe o risco, embora relativamente improvável, de que uma inflação mais elevada a curto prazo venha a ficar embutida em expectativas de inflação cada vez mais sem ancoragens e, deste modo, perdure ao longo do tempo. Se isso acontecer, o já difícil trabalho dos bancos centrais, será ainda mais complicado.

É de esperar que os orçamentos dedicados ao setor da defesa, conheçam um aumento na Europa, nos EUA e em outros países, o que reflete uma certa ansiedade face a uma situação global cada vez mais perigosa. Isto não irá reduzir o crescimento do PIB, mas reduzirá o bem-estar das pessoas, porque os recursos dedicados à defesa são recursos que não podem ir para o consumo ou investimento em educação, saúde, apoio social ou infraestruturas.

As consequências a médio e longo prazo para a economia global da invasão da Ucrânia pela Rússia dependerão das escolhas. Ao invadir, a Rússia fez uma escolha catastrófica! Os EUA, a União Europeia e outros governos fizeram escolhas iniciais sobre sanções, mas resta saber como a Rússia irá reagir a elas ou se serão impostas mais sanções. Na verdade, se as sanções e as contra-respostas se agravarem, então os custos associados serão maiores - em primeiro lugar para a Rússia, mas também para o resto da economia global. Mas, como o mundo continua a responder à invasão russa, as preocupações com o PIB parecem ser menores em comparação. Muito mais importante, é um mundo em que as pessoas e os países se sintam seguros. E isso é algo pelo qual vale a pena pagar, eu diria mesmo mais do que os líderes mundiais pagaram até agora.

As relações económicas globais são de soma não nula e positiva, e o isolamento crescente da Rússia eliminará um pequeno positivo. Em termos gerais, concluo dizendo que: a incerteza e a hipótese de falta de segurança, nunca foram boas para a economia!


 
 
 

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