Bioeconomia: mais um aforisma para as Regiões Portuguesas?
- João Leitão
- 25 de jun. de 2020
- 3 min de leitura

No documento publicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) intitulado: “The Bioeconomy to 2030: Designing a Policy Agenda”, em abril de 2009, a Bioeconomia é, estrategicamente, posicionada como um elemento central para o crescimento verde e inteligente.
Para a Comissão Europeia, a Bioeconomia abrange a produção de recursos biológicos renováveis e a conversão destes recursos e fluxos de resíduos em produtos de valor acrescentado, tais como, alimentos para consumo humano e animal, produtos de base biológica e bioenergia.
A visão estratégica integrada na autodesignada: “Estratégia Europeia 2020”; aponta para uma reindustrialização eco-inovadora e sustentável da atividade produtiva, atribuindo à biotecnologia uma relevante importância na determinação de novas formas de produção económica. Nesta mesma linha de argumentação, estima-se que a Bioeconomia atinja uma dimensão global e seja, no fundamental, caracterizada por princípios e valores distintivos de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade ambiental.
A Bioeconomia deve abranger uma complexa cadeia vertical, onde se devem situar, a montante, as atividades de investigação, desenvolvimento e inovação (ID&I) e produção, e a jusante, as atividades de distribuição e comercialização.
Esta visão integrada comporta três eixos estratégicos de intervenção:
(I) Conhecimento em biotecnologia para efeitos de desenvolvimento de novos processos: que devem estar orientados para a produção de uma gama diversificada de produtos, incluindo biofarmacêuticos, novas combinações de vacinas, novas variações de plantas e animais e enzimas industriais.
(II) Biomassa renovável: que pode ser obtida através de diversas fontes primárias (isto é, ervas, árvores, algas e culturas de alimentos) e resíduos domésticos, industriais e da agricultura (por exemplo, cascas de vegetais, serradura, óleos vegetais usados, bagaço e palha de cereais).
(III) Bioprocessos eficientes para uma produção sustentável: que permitem, a partir dos materiais previamente exemplificados, a produção de uma extensa gama de produtos, tais como papel, biocombustíveis, plásticos, produtos químicos industriais, e um dia espero que, transístores, nano chips e órgãos.
A riqueza desta visão implica a desafiante integração entre conhecimento e aplicações. Para que fique claro, os três principais campos de aplicação da biotecnologia são os seguintes:
(1) Produção primária, inclui todas as fontes naturais vivas, tais como floresta, cultura de plantas, recursos animais, insetos, peixe e outros recursos marinhos.
(2) Saúde, abrange aplicações farmacêuticas, nutracêuticas, de diagnóstico e instrumentos médicos.
(3) Indústria, agrega produtos químicos, plásticos, enzimas, mineração, pasta e papel e aplicações ambientais, tais como biorremediação de solos.
Um substancial conjunto de fontes de vantagens competitivas aponta para a multiplicidade setorial, assente em lógicas de diversificação estratégica da base produtiva, mas com níveis elevados de especialização, que agrega dezasseis setores produtivos, que podem ser enquadráveis como setores totalmente ou parcialmente pertencentes à Bioeconomia.
Apesar das múltiplas origens e da ampla dispersão da Bioeconomia em diversificados domínios científicos, é possível distinguir, fundamentalmente, três visões, a saber, a biotecnológica, de biorrecursos e a bioecológica; as quais, ignorando possíveis preferências clubísticas, podem ser agrupadas nas denominadas: Bioeconomia verde; e Bioeconomia branca.
A Bioeconomia verde tem por base a biotecnologia verde ou agroflorestal, englobando a produção primária, existindo uma gama ampla de aplicações da biotecnologia no setor agrícola, pecuário e da floresta.
Já a Bioeconomia branca está ligada aos processos industriais e pode abranger processos biotecnológicos (a título exemplificativo, enzimas e microrganismos para produzir produtos de base bio em setores tão diversos como produtos químicos, alimentos, detergentes, papel e celulose, têxteis e bioenergia), que contribuam para a redução das emissões de gases de efeito estufa, bem como para a melhoria do desempenho e do valor de produtos industriais.
Como se pode concluir, é mais do que um aforisma, na medida em que, na linha dos argumentos acima aduzidos, a Bioeconomia revela ser uma visão ambiciosa, estratégica, integrada e agregadora, que faz falta e pode contribuir para a sustentabilidade e a eficiência produtiva das Regiões Portuguesas, mas para ser exequível, nós precisamos de recriar as Regiões!
João Leitão
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