Sustentabilidade e Performance
- João Leitão
- 22 de mar. de 2020
- 2 min de leitura

A sustentabilidade é um fator determinante da performance, revestindo-se de três dimensões: a económica; a social; e a ambiental. A dimensão económica pode ser medida pelo volume de faturação, ativos ou dimensão empregadora. A segunda diz respeito ao impacto social das atividades empreendidas, por via da redistribuição da riqueza gerada e do aumento da qualidade de vida coletiva. A ambiental pode ser mensurada através da pegada ecológica, bem como da poupança obtida por via de investimentos amigos do ambiente, sob uma nova dinâmica de economia circular.
Para além da necessária redução das emissões de CO2, é necessário preservar os recursos e gerar reservas, apostando estrategicamente na produção, distribuição e consumo de energias renováveis. A esta vertente renovável deve somar-se a da reciclagem que pode contribuir fortemente para uma segunda vida de um dado produto ou resíduo que, quando são novamente introduzidos na cadeia de produção podem representar uma opção inteligente de poupança financeira e energética.
A miúde se regressa ao debate, sempre apetecível, em torno das questões do ambiente e da natureza, questionado, sobremaneira, se ambos são recursos livres ou até mesmo, para os filósofos economistas, se são bens públicos? O liberalismo clássico advoga que sim, mas o sentido de propriedade e a irresponsabilidade coletiva, fazem pensar alguns novos liberais que, cada vez mais, a natureza e o ambiente, invertendo a ordem de raciocínio, são bens privados. Uma visão defensável é que ambos não estão disponíveis em termos infinitos. Tal visão poderá ser manipulada e transformada em uma forma de capitalismo natural, onde o provedor único (por exemplo, de água) pode economicamente escrevendo, suportar uma função de custos médios decrescentes, que justifica per se a inexistência de competição e a prática de preços de monopólio, mais ou menos natural?!
A sustentabilidade, contudo, pode ser tida como uma missão sagrada, pois a primeira diminui o risco, através da redução do custo do capital. Por seu turno, se também contribuir para um desenvolvimento sustentável pode reduzir ainda mais esse risco, sobretudo, se incorporar na performance um cruzamento entre os focos internos e externos de uma entidade pública, empresarial ou pessoal. Assim, a verdadeira filosofia da sustentabilidade coloca o foco interno na racionalização das necessidades de capital e na cultura organizacional, pró-poupança (entenda-se autofinanciada) e longevidade equilibrada. O foco externo, por sua vez, tem que versar a influência social e o impacto ambiental das atividades da entidade protagonista. Para terminar, e como a sustentabilidade é uma fonte de vantagem competitiva, para qualquer entidade que valorize também a filosofia do planeamento operacional e estratégico das suas atividades, no curto prazo, a prevalência deve ser dupla, do capital e da influência social, mas no longo prazo, o canhão é de longo alcance, visando a mudança da cultura organizacional e do verdadeiro impacto ambiental da entidade. Citando Platão, ilustre Filósofo e Matemático da Grécia antiga: «Um grão de filosofia dispõe ao ateísmo; muita filosofia reconduz à religião.». Assim, no entorno da presente crónica, e se assim se predispuserem as diferentes entidades protagonistas, transforme-se a sustentabilidade em algo mais do que uma missão, eu atrever-me-ia a sonhar com uma verdadeira religião, que seja obreira de um mundo melhor, equilibrado e mais justo.
João Leitão
Universidade da Beira Interior
Núcleo de Estudos em Ciências Empresariais (NECE)
Texto publicado no Jornal do Fundão
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